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Narcisismo

Acredito que todo mundo sabe o que significa esta palavra. Talvez superficialmente ao menos, mas todos fazem ideia do que ela significa.

O termo “narcisismo” foi usado pelos psicanalistas desde 1898, quando Henry Havelock Ellis, um médico e psicólogo britânico, escritor e reformador social, escreveu sobre a sexualidade humana. O termo “narcisismo” faz referência ao mito grego de Narciso que diz assim:

Narciso era um rapaz plenamente belo. Dias antes de seu nascimento, seus pais resolveram consultar o oráculo para saber qual seria o destino do menino. E a revelação do oráculo foi que ele teria uma longa vida, desde que nunca visse seu próprio rosto. Narciso cresceu, e se transformou em um jovem bonito, que despertava amor tanto em homens quanto em mulheres, mas era muito orgulhoso e tinha uma arrogância inquebrantável. Até as ninfas se apaixonaram por ele, mas o rapaz as menosprezava. As moças desprezadas pediram aos deuses para vingá-las. Para dar uma lição no moço indiferente, a deusa Némesis, o condenou a apaixonar-se pelo seu próprio reflexo na lagoa. Encantado pela sua própria beleza, Narciso deitou-se no barranco e definhou, admirando a si mesmo até morrer.

Depois da sua morte, Afrodite o transformou numa flor, Narciso.

Com o mito entende-se que narcisismo traz consigo a ideia de uma pessoa arrogante, muito centrada em si mesma e incapaz de amar outras pessoas.

É pertinente fazermos aqui uma diferenciação sobre o que é autoestima. Não se pode confundir estas duas coisas. Autoestima é o amor próprio na medida adequada, é o reconhecimento do próprio valor enquanto pessoa, é reconhecer seus esforços e méritos, é aceitação amorosa de suas limitações e é essencial para uma vida psíquica normal e saudável. Amor próprio/autoestima não é narcisismo. Essa diferenciação fica ainda mais complicada se consideramos os valores sociais atuais e a influência das redes sociais. Toda essa tecnologia que expandiu a interconexão entre as pessoas (para níveis nunca experimentados pela sociedade)

nos obriga a atualizar os limites que dividem a autoestima do narcisismo.


Afinal de contas, uma jovem que gosta de tirar selfies e publicar em 3 redes sociais não deve ser considerada narcísica só por esse motivo. Esse é o comportamento esperado para os jovens dessa sociedade dominada pelo smartphone.


Dito isso, vamos mergulhar rumo ao narcisismo mais patológico, para que possamos entender suas características. Como funciona isso? Quanto mais patologicamente narcísica for uma pessoa, mais perturbadas são suas relações interpessoais, pois maior será sua incapacidade de amar outras pessoas, e isso pode servir de baliza para firmarmos o diagnóstico. O narcisista ama somente uma pessoa na vida; ele mesmo! O narcisista clássico não se importa com as outras pessoas, ele as usa como objetos (para se vangloriar ou se gratificar) e depois as descarta de acordo com suas necessidades. Os namoros, por exemplo, terminam quando o outro começa a fazer exigências pautadas nas próprias necessidades. O parceiro(a) deve servir para destacar o prestígio do(a) narcisista ou então deve apenas satisfazer suas necessidades (deve aceitar os planos e projetos sem questionar), senão é fim de papo.

As variantes de comportamento narcisista estão distribuídas entre dois polos, um é o extrovertido (tudo é para fora) e o outro é introvertido (tudo é para dentro).

O extrovertido é distraído pois não presta atenção nas consequências de seus atos para os outros.


Ele é espalhafatoso, gosta de chamar a atenção como um pavão, por isso dizemos “para fora”, para se mostrar. Falam alto como se tivessem uma plateia, falam para os outros e não com os outros. São incapazes de perceber que estão incomodando as outros. O conteúdo de sua fala é repleta de referências à sua própria pessoa, suas realizações e conquistas. São insensíveis ao ponto de impedir que outros também participem da conversa. São vistos como chatos e as pessoas o evitam quando podem.

O introvertido parece tímido, mas é silenciosamente grandioso.


Ele tende a guardar mágoa, pois leva para dentro aquilo que interpreta como sinal de pouca valorização de sua pessoa por parte dos outros. É muito sensível a sinais de reprovação e por isso tende a evitar contato com pessoa que ele pensa que pode criticá-lo. Então ao contrário do anterior, ele presta muita atenção aos outros ao seu redor, mas não porque se importa verdadeiramente, mas porque vive monitorando sinais de reprovação advindas destes. Na essência de seu mundo interior há um sentido de vergonha, relacionado a um secreto desejo (sempre refreado) de exibir-se de forma grandiosa, ou ao medo de não ser brilhante o suficiente.

O que existe em comum entre os dois tipos? A falta de empatia, a dificuldade de valorizar as necessidades dos outros. Eles terminam por machucar as pessoas que convivem com eles, ainda que a intenção não seja essa. Mas tem outra coisa mais chocante que os une. Ambos estão lutando desesperadamente (ainda que de forma não totalmente consciente) para sustentarem suas frágeis autoestimas. Parece incoerente, mas não é. O narcisista no fundo tem uma autoestima fraca, e ele tenta compensar, disfarçar ou provar para si mesmo o oposto. O narcisismo não passa de uma forma inadequada de defesa de um ego frágil. O introvertido tenta preservar sua autoestima evitando situações de vulnerabilidade e sondando o comportamento dos outros sem parar em busca de um eco de perigo. Vive tenso e pronto para se afastar de alguém e por isso seus elos são fracos. O extrovertido tenta impressionar os outros, tenta encantar as pessoas para obter delas sinais de admiração, ele usa essa aprovação para convencer a si mesmo de que ele é incrível, enquanto na verdade ele morre de medo de não ser assim tão incrível. Para ele as pessoas são apenas objetos de validação, mas essa necessidade nunca é superada, e ele ficará numa busca eterna desta gratificação externa. Os dois tipos não estarão em paz até encararem de frente seus medos e fragilidades. Ambos precisam estruturar outros mecanismos de defesa, mais maduros e adequados.

Cabe lembrar que os tipos caracterizados são os polos, a maioria dos indivíduos apresentam elementos mesclados dos dois grupos.

Se este assunto te incomodou, procure ler mais sobre isso e considere marcar uma consulta com a psicologia.

(Texto embasado em Glen O. Gabbard)

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