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Personalidade Esquizoide e Esquizotípica

São dois tipos de personalidade que estão relacionados com a esquizofrenia no campo sintomatológico. Ambas, no entanto são diferentes de esquizofrenia. Ademais existem diferenças entre estes dois tipos de personalidade, distinção que farei adiante. Alguns autores defendem que a esquizotípica está geneticamente ligada a esquizofrenia, mas a esquizoide não. Mas tem autores que defendem a ideia de um continuum entre estes dois tipos de personalidade, e pontuam que é difícil estabelecer a linha divisória entre uma e outra.


O primeiro ponto a esclarecer é que os diagnósticos de personalidade falam sobre um padrão de comportamento que nasce com o indivíduo. Ele está presente durante toda sua vida, ainda que com o crescimento, alguns elementos se transformem. Na esquizofrenia propriamente dita, a pessoa nasce sem a manifestação da doença, apresenta um desenvolvimento normal e em determinado momento existe uma quebra que modifica profundamente a mente do indivíduo. Grosseiramente falando este é o ponto que separa estes diagnósticos.

Você vai ver que as coisas podem de fato ficarem confusas quando tentamos diferencias os dois tipos de personalidade “esquizo”. Vamos aos critérios que descrevem essas entidades diagnósticas:

Transtorno da Personalidade Esquizoide

Um padrão difuso de distanciamento das relações sociais e uma faixa restrita de expressão de emoções em contextos interpessoais conforme indicado por quatro (ou mais) dos seguintes:

1. Não deseja nem desfruta de relações íntimas, inclusive ser parte de uma família.

2. Quase sempre opta por atividades solitárias.

3. Manifesta pouco ou nenhum interesse em ter experiências sexuais com outra pessoa.

4. Tem prazer em poucas atividades, por vezes em nenhuma.

5. Não tem amigos próximos ou confidentes que não sejam os familiares de primeiro grau.

6. Mostra-se indiferente ao elogio ou à crítica de outros.

7. Demonstra frieza emocional, distanciamento ou embotamento afetivo


Características: Indivíduos com transtorno da personalidade esquizoide demonstram não ter desejo de intimidade, parecem indiferentes a oportunidades de desenvolver relações próximas e não parecem encontrar muita satisfação em fazer parte de um grupo social. Situações sociais parecem repulsivas para eles, não é exatamente medo (como na fobia social) mas sentem que é uma coisa desagradável. Preferem ficar sozinhos em vez de com outras pessoas. Com frequência parecem ser socialmente isolados ou “solitários” e quase sempre optam por atividades ou passatempos solitários que não incluem interação com outros. Preferem tarefas mecânicas ou abstratas, como jogos matemáticos ou de computador. Podem ter muito pouco interesse em ter experiências sexuais com outra pessoa e têm prazer em poucas atividades, quando não em nenhuma. Há geralmente uma sensação reduzida de prazer decorrente de experiências sensoriais, corporais ou interpessoais, como caminhar na praia ao fim do dia ou fazer sexo. Esses indivíduos não têm amigos próximos ou confidentes, exceto um possível parente de primeiro grau. Indivíduos com transtorno da personalidade esquizoide costumam ser indiferentes à aprovação ou à crítica dos outros e não parecem se incomodar com o que os demais podem pensar deles. Podem ignorar sutilezas normais das interações sociais e frequentemente não reagem de forma adequada a gentilezas sociais, de modo que parecem socialmente inaptos ou superficiais e absorvidos em si mesmos. Habitualmente, mostram um exterior “insípido”, sem reatividade emocional visível, e apenas raramente respondem de forma recíproca a gestos ou expressões faciais, como sorrisos ou acenos. Alegam que raramente vivenciam emoções fortes, como raiva e alegria. Costumam mostrar um afeto constrito e parecem frios e distantes.



Por vezes me lembram os Vulcanos (uma espécie humanoide do universo fictício do seriado Star Trek) principalmente no que se refere a afetos. Mas Vulcanos são meio narcisistas e estes indivíduos não são. Eles são diferentes dos outros, mas isso não tem a menor importância para eles, ou seja, parecem não sofrer com isso.


Agora prestem atenção na descrição do outro tipo de personalidade “esquizo”.


Transtorno da Personalidade Esquizotípica

Um padrão difuso de déficits sociais e interpessoais marcado por desconforto agudo e capacidade reduzida para relacionamentos íntimos, além de distorções cognitivas ou perceptivas e comportamento excêntrico conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes: 1. Ideias de referência (excluindo delírios de referência).

2. Crenças estranhas ou pensamento mágico que influenciam o comportamento e são inconsistentes com as normas subculturais do grupo em que ele vive. (p. ex., superstições, crença em clarividência, telepatia ou “sexto sentido).

3. Experiências perceptivas incomuns, incluindo ilusões corporais.

4. Pensamento e discurso estranhos (p. ex., vago, circunstancial, metafórico, excessivamente elaborado ou estereotipado).

5. Desconfiança ou ideação paranoide.

6. Afeto inadequado ou constrito.

7. Comportamento ou aparência estranha, excêntrica ou peculiar.

8. Ausência de amigos próximos ou confidentes que não sejam parentes de primeiro grau.

9. Ansiedade social excessiva que não diminui com o convívio e que tende a estar associada mais a temores paranoides do que a julgamentos negativos sobre si mesmo.

Características: essencialmente o transtorno da personalidade esquizotípica é um padrão difuso de déficits sociais e interpessoais marcado por desconforto agudo e capacidade reduzida para relacionamentos íntimos, bem como por distorções cognitivas ou perceptivas e comportamento excêntrico. Indivíduos com transtorno da personalidade esquizotípica com frequência apresentam ideias de referência (i.e., interpretações incorretas de incidentes casuais e eventos externos como tendo um sentido particular e incomum especificamente para a pessoa). Esses indivíduos podem ser supersticiosos ou preocupados com fenômenos paranormais que fogem das normas de sua subcultura. Podem achar que têm poderes especiais para sentir os eventos antes que ocorram ou para ler os pensamentos alheios. Podem acreditar que exercem controle mágico sobre os outros, o qual pode ser implementado diretamente (p. ex., a crença de que o fato de o cônjuge estar levando o cachorro para passear é consequência direta de uma hora antes, ter pensado que isso devia ser feito) ou indiretamente, por meio de obediência a rituais mágicos. Alterações perceptivas podem estar presentes (p. ex., sentir que outra pessoa está presente ou ouvir uma voz murmurando seu nome). Seu discurso pode incluir construções incomuns ou idiossincrásicas e costuma ser desconexo, digressivo ou vago. Respostas podem ser excessivamente concretas ou abstratas, e palavras e conceitos são, por vezes, aplicados de maneiras pouco habituais. Indivíduos com esse transtorno são frequentemente desconfiados e podem apresentar ideias paranoides (p. ex., crer que os colegas de trabalho estão planejando minar sua reputação com o chefe). Em geral, são incapazes de lidar com os afetos e as minúcias interpessoais que são necessários para relacionamentos bem-sucedidos; assim, com frequência parecem interagir com os outros de forma inadequada, formal ou constrita. Esses indivíduos são geralmente considerados esquisitos ou excêntricos em virtude de maneirismos incomuns, isto é, sua forma desleixada de vestir-se que não “combina” bem e sua falta de atenção às convenções sociais habituais (p. ex., o indivíduo pode evitar contato visual, usar roupas manchadas ou que não servem bem e ser incapaz de participar das provocações e brincadeiras que ocorrem entre colegas de trabalho). Eles vivenciam os relacionamentos interpessoais como problemáticos e sentem desconforto em se relacionar com outras pessoas. Embora possam manifestar infelicidade acerca da falta de relacionamentos, seu comportamento sugere um desejo reduzido de contatos íntimos. Assim, costumam ter poucos ou nenhum amigo próximo ou confidente que não seja parente de primeiro grau. São ansiosos em situações sociais, especialmente aquelas que envolvem pessoas desconhecidas. Irão interagir com outras pessoas quando tiverem de fazer isso, mas preferem não estabelecer interações, pois sentem que são diferentes e que não se enturmam. Sua ansiedade social não diminui facilmente, mesmo quando passam mais tempo no local ou conhecem melhor as outras pessoas, visto que a ansiedade tende a estar associada à desconfiança quanto às motivações dos outros. Por exemplo, em um jantar, a pessoa com o transtorno da personalidade esquizotípica não ficará mais relaxada com o passar das horas; pelo contrário: ficará mais tensa e desconfiada.


Esses são indivíduos esquisitos, visivelmente fora do padrão. Mas diferente do esquizoide, esses indivíduos mais frequentemente sofrem com a percepção da repulsa das pessoas. Tem biógrafo que especula que Nikola Tesla (físico) era deste perfil.


As pessoas com personalidade “esquizo” são frequentemente rejeitadas pelos grupos desde a escola primária em alguns casos. Como defesa, eles então vão repelir qualquer tentativa de aproximação com o intuito de ajuda na vida adulta, reforçando sua exclusão social. Na mente deles, estão constantemente enfrentando pensamentos (fantasiosos ou não) sobre abandono, perseguição e desintegração. A tarefa do terapeuta aqui é dissolver essas relações internas congeladas proporcionando uma nova experiência de relação com o mundo e as pessoas.

(Embasado em Glen O. Gabbard e no DSM-5)

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